Você não precisa saber fazer cálculos ou saber avaliar os níveis de garantia para ser capaz de analisar a melhor ração. Só o hábito de ler os ingredientes pode fazer a diferença na sua decisão.
Por Bettina Michalak – Médica Veterinária CRMV SC 5069
Tentar entender os cálculos de níveis de garantia e comparar ao que costumamos fazer na nossa alimentação (como interpretar tabelas nutricionais) pode ser muito frustrante, já que até mesmo os veterinários têm dificuldades no entendimento de cálculos da nutrição animal.
Então, cabe a nós tutores, a leitura dos rótulos para não cair em pegadinha ou ficar refém de propagandas enganosas.
PROTEÍNA EM PRIMEIRO LUGAR
Não tome como base o nível ou porcentagem de proteína na tabela de nível de garantia.
Isso porque o que importa não é a sua quantidade, mas sim o quanto o organismo vai conseguir absorver dessa fonte de proteína.
O que importa é a qualidade, a fonte dessa proteína.
Rações comuns podem ser feitas com proteínas de 65% de digestibilidade, provocando fezes mais volumosas já que precisa comer mais volume para a absorção de todos os nutrientes.
Rações super premium podem apresentar um teor de digestibilidade de proteína de 85%.
Nesse quesito, a alimentação natural se torna muito vantajosa, já que ela é feita com as melhores fontes de proteínas possíveis – diferentes cortes de carnes, ovos.
Quando escolher a ração, atente-se a origem proteica (carne ou carne mecanicamente separada de frango, bovino, cordeiro) ou as suas farinhas.
Subprodutos podem ser utilizados, mas não como fonte principal de proteína.
Evite produtos sem especificações, descritos como subprodutos de carne, farinha de carne e ossos, farinha de penas.
CARBOIDRATOS
Muitos adeptos a dietas biologicamente apropriadas alegam que os cães não precisam de carboidratos na sua dieta. Outros defendem sua utilização alegando que são boas fontes de energia e nutrientes.
Os carboidratos são necessários para o processo de extrusão das rações, e eles ajudam a reduzir custos da dieta uma vez que as proteínas têm um alto valor.
Cães toleram bem o consumo de baixos teores de carboidratos e, muitas vezes eles até ajudam a tornar o alimento mais digerível.
O problema é que os rótulos não nos dizem qual é o teor de carboidrato dos alimentos.
Com isso, muitas rações apresentam um nível extremamente alto de carboidratos, com fontes de baixa qualidade. Isso resulta na inflamação do organismo e a predisposição ao aparecimento de doenças crônicas.
Os carboidratos utilizados na alimentação natural são carboidratos complexos, que não causam pico glicêmico no organismo, e enriquecem a dieta com diferentes nutrientes e fibras.
Nas rações, busque pela presença de grãos e cereais integrais, como o arroz, trigo, aveia, ervilhas.
Os farelos utilizados são refinados e não possuem valor nutritivo significante, por isso devem ser evitados.
GORDURAS
Os lipídeos são importantíssimos para a manutenção da pele, pelagem, para a saúde do cérebro, e também são pontos fundamentais para tornar uma dieta anti-inflamatória.
Evite ao máximo óleos não especificados, como “óleo vegetal” ou “gordura animal” e prefira as opções que são claramente identificados, como “óleo de girassol”, “óleo de frango”.
ADITIVOS
A grande utilização de aditivos na indústria da ração é hoje um dos maiores motivos pelos quais os tutores procuram por alternativas saudáveis.
Há poucos anos atrás, a utilização dos corantes nas rações vendia muito e hoje, tutores conscientes sabem que devem ser evitados.
Conservantes como BHA e BHT são derivados do petróleo e causam prejuízos graves a saúde.
Em alguns países a sua utilização é proibida, porém, ainda são muito utilizados nas rações.
Sua substituição é possível, mas tem um custo maior, por isso geralmente são utilizados conservantes naturais como o extrato de alecrim ou o tocoferol em alimentos super premium.
Como podemos notar, tudo que é bom e saudável encarece o produto.
PROBLEMAS INVISÍVEIS
Inúmeras anormalidades são identificadas em análises de rações, facilmente encontradas na internet.
No site americano do FDA, equivalente ao nosso Ministério da Agricultura, a lista de irregularidades cresce a cada ano.
E variam entre contaminações por salmonela, aflatoxinas e até mesmo resquícios de drogas utilizadas em eutanásias.
Foi encontrado até mesmo DNA de cachorro e de cavalo em uma ração restritiva de proteína de cordeiro (*), na qual seu rótulo informava que o produto continha “apenas 6 ingredientes”.
INGREDIENTES INTERESSANTES
Felizmente, hoje muitos fabricantes estão atentos ao que procuram os tutores, e acrescentam ingredientes que trazem benefícios a saúde.
- Prebióticos (FOS, MOS).
- Antioxidantes naturais (Vitamina E).
- Levedura de cerveja: fonte de vitaminas e fibras.
- Extrato de Yucca: ajuda a reduzir o odor das fezes.
- Óleo de peixe: fonte de EPA e DHA (ômegas 3 e 6).
- Vegetais, frutas e legumes: são sempre bem vindos e enriquecem os produtos com diversos nutrientes importantes.
- Temperinhos e ervas: são muito ricos e nutritivos, e ajudam a preservar os alimentos.
Por isso a Alimentação Natural vem ganhando espaço, os tutores estão reconhecendo seus benefícios.
Na Comunidade Chef di Animale procuramos utilizar em nossas receitas, diversos alimentos que possuem propriedades nutracêuticas.
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